Nanoestruturados metálicos, principalmente as nanopartículas de ouro, estão se tornando poderosos aliados no combate ao câncer. É apenas uma das possibilidades de um vasto campo

Priscila Santos Rodrigues*, para Headline Ideias

Fonte: Headline

A nanotecnologia tem uma vasta área de aplicações, por utilizar materiais que apresentam inúmeras propriedades na escala nanométrica.

As nanopartículas estão presentes em nosso dia a dia. São pequenas partículas invisíveis que combatem microrganismos. Elas são encontradas nas baterias com longas durações, em microprocessadores mais rápidos que consomem menos energia, e em muitos insumos de cosméticos e saúde.

No protetor solar, por exemplo, existem nanopartículas de dióxido de titânio (TiO2), que é um de seus componentes, atuando como filtro para o ultravioleta, protegendo a pele e evitando queimaduras. À medida que vai diminuindo o tamanho das partículas de TiO2, o protetor solar torna-se transparente para qualquer tipo de pele garantindo a mesma proteção.

Um nanomaterial é um material natural, acidental ou produzido, que contém partículas como um agregado ou aglomerado com 50% ou mais das partículas na distribuição de tamanhos numéricos na faixa entre 1-100 nm, equivalente a 10-9 m.

Em 1959, o pai da nanotecnologia, o físico Richard Feynman, numa palestra conhecida como "There's Plenty of Room at the Bottom" (algo como "Há muito espaço no fundo"), apresentou ao mundo o futuro da miniaturização extrema e os benefícios dos materiais em escalas moleculares e atômicas.

Mas a história da nanotecnologia não começou no século XX. Há relatos de que artesãos do século IV d.C. maceravam ouro, alterando seu tamanho e suas propriedades ópticas. Um grande exemplo é a taça de Lycurgus, um artefato do Império Romano que é uma taça de ouro com tons verdes e após transmitir uma luz, o tom esverdeado passa a ter um tom avermelhado, comprovando a existência de nanopartículas metálicas.

Geralmente, as nanopartículas são classificadas de acordo com a sua composição química, formato e revestimento; variando seus métodos de produção. Devido ao seu uso potencial e versatilidade, os nanomateriais possuem aplicações em produtos estéticos, eletrônicos, industriais e na medicina, tais como, agente marcador de imagens e radiodiagnóstico, entrega de fármacos e terapia.

Um aliado no combate ao câncer

Recentemente, nanoestruturados metálicos, principalmente as nanopartículas de ouro, estão sendo desenvolvidos como poderosos aliados no combate ao câncer. Eles mostram-se promissores, oferecendo uma eficácia melhorada e toxicidade reduzida, permitindo um diagnóstico não invasivo e uma terapia mais precisa do câncer.

Imagine no futuro um paciente poder receber, num consultório, o diagnóstico de câncer delimitando exatamente a área do tumor. E, no mesmo lugar, receber um tratamento com radiofármaco. Este futuro está bem próximo. É possível injetar nanopartículas teranósticas que são introduzidas no tumor permitindo um diagnóstico e terapia precisos.

As universidades de Missouri, nos EUA, Laval, no Canadá, e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares no Brasil produzem nanopartículas radioativas de ouro e pesquisam sobre a sua utilização para tratamento de câncer. Esses projetos ainda estão em fases iniciais. Entretanto, eles oferecem perspectivas positivas e eficácia a um novo tipo de terapia chamada de nanobraquiterapia.

A nanotecnologia traz várias possibilidades e representa um vasto universo que a ciência ainda precisa explorar melhor. Há muito espaço no nanomundo.

*Priscila Santos Rodrigues é física médica formada em Sergipe. Mestra em Ciências pela Universidade de São Paulo. Doutoranda e cientista pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - USP.