A ideia é formalizar parcerias tanto na forma de pesquisa e desenvolvimento quanto de educação para atrair pessoas para seguirem carreira no setor nuclear brasileiro.
Conhecer as instalações do IPEN-CNEN, suas atividades e discutir a possibilidade de desenvolver, no futuro, projetos conjuntos na área de educação. Estes foram alguns dos objetivos da visita de membros da Agência de Energia Nuclear (NEA) ao IPEN no dia 2 de julho.
Recebida pela Diretora do IPEN, Isolda Costa, e gestores de alguns Centros de Pesquisa e do Reator IEA-R1, a delegação da NEA foi formada pelo Diretor-Geral, William D. Magwood, IV, pela Coordenadora de Relações Globais e Analista de Políticas, Gabriella Palos, a Especialista em Segurança Nuclear, Marina Demeshko, e pelo diplomata brasileiro do Ministério das Relações Exteriores que os acompanhava, Eduardo Siebra.
A visita da comitiva foi considerada muito importante para aproximar o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), com sede em São Paulo, de uma das mais importantes instituições do setor nuclear. Em nível global, a NEA é uma agência especializada da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com sede na França, composta por países industrializados.
De acordo com Isolda Costa, esta aproximação trará oportunidades de cooperação na área do desenvolvimento nuclear e na área da educação, onde foram destacadas várias possibilidades de desenvolvimento de ações conjuntas para incentivar a escolha da área nuclear como uma carreira profissional, quer no desenvolvimento de possibilidades de parcerias ao nível da cooperação internacional em países onde se realiza investigação na área da energia e da tecnologia nuclear, quer na utilização das tecnologias dos reatores para estudar os efeitos da radiação nas propriedades dos materiais de forma cooperativa.
"Durante esta visita, foram apresentadas várias possibilidades para promover e motivar o interesse e a ação na área nuclear nas várias fases da vida e desenvolvimento de uma pessoa, desde quando criança na escola, quando é importante que esteja motivada a conhecer as possibilidades de trabalhar no setor nuclear, até ao ensino médio e superior, quando eles decidem quais carreiras seguirão. Além de parcerias com o setor nuclear em países com infraestrutura necessária para que possamos desenvolver um trabalho de alto nível e expertise", explicou Isolda Costa.
O grupo que visitou o IPEN mostrou-se muito aberto ao Instituto para que faça parte do grupo de países que já estão diretamente envolvidos com os projetos do NEA.
A ideia é que eles discutam essas ideias com o Governo Federal em Brasília e durante a visita à Comissão Nacional de Energia Nuclear para refinar essa parceria, além de definir quais os próximos passos de aproximação entre o NEA, a CNEN e os seus institutos.
Após a visita ao Reator IEA-R1 e ao Centro de Lasers e Aplicações (CELAP), William Magwood concedeu uma entrevista sobre suas impressões em relação à visita ao IPEN e as possibilidades de futuras parcerias.
IPEN: Qual o objetivo da sua visita ao IPEN?
WM - Bem, é sempre um prazer visitar um centro de pesquisa como o IPEN. Isso é muito importante. Aqui está a sede do primeiro reator de pesquisa da América do Sul, então o IPEN tem uma história muito longa e distinta em pesquisa nuclear e, como país parceiro da NEA, esperamos fortalecer os laços com organizações de pesquisa no Brasil. Esta visita é a primeira que faço há algum tempo. Porque estive aqui pela última vez há cinco anos, mas gostaria de ter conversas mais regulares com os pesquisadores aqui do Brasil.
IPEN – Como a NEA e o IPEN podem trabalhar juntos para o desenvolvimento da energia nuclear?
WM - Há tantas áreas em que podemos trabalhar juntos. Acredito que a área mais importante que foi discutida ao longo do dia foram as áreas relacionadas à educação. Há uma necessidade muito, muito forte em todo o mundo de atrair mais jovens para a ciência e a tecnologia, especialmente a ciência e a tecnologia nuclear. O IPEN tem um desejo estratégico de ver isso acontecer. É uma grande parte do que fazemos na Agência de Energia Nuclear e, portanto, acho que é uma boa chance para trabalharmos juntos nessa área para incentivar os jovens a serem cientistas e engenheiros no futuro.
Também falamos sobre colaboração relacionada à produção de isótopos médicos e, provavelmente, também sobre como lidar com testes de combustíveis e materiais em instalações avançadas de pesquisa como a que existe aqui no IPEN.
IPEN - Você poderia compartilhar suas impressões pessoais sobre o que viu e ouviu hoje?
WM - O IPEN tem uma lista muito, muito impressionante de atividades. Fomos informados sobre muitos deles hoje. Provavelmente há muito o que cobrir em uma visita de um dia, mas aprendemos muito sobre o que está acontecendo no IPEN. Estou muito impressionado com a amplitude das atividades e também com a qualidade das pessoas com quem conversamos. Cientistas seniores muito experientes que entendem o quadro geral, que entendem como o trabalho que estão fazendo aqui afeta a vida das pessoas comuns no Brasil e em todo o mundo, e é uma tremenda oportunidade ter essas conversas com eles e compartilhar as experiências que tivemos na NEA, que são muito semelhantes.
IPEN - O que podemos esperar nos próximos anos da parceria entre o IPEN e a NEA?
WM - Minha esperança é que comecemos a planejar algumas atividades juntos no próximo ano. Como mencionei anteriormente, provavelmente na área da educação, mas acho que há muitas outras áreas que podemos explorar também.
Gostaria que tivéssemos um contato mais regular, conhecêssemos mais sobre a expertise do IPEN e de outros institutos no Brasil. Acredito que esse contato regular é tremendamente importante para compartilhar tanto a experiência que o Brasil tem quanto a experiência que nossos países membros têm e ver o que podemos fazer juntos para tornar o mundo um lugar melhor no futuro a longo prazo. Eu sou uma das pessoas que acredita que o futuro será melhor que o passado, e isso acontecerá porque institutos como o IPEN têm a expertise para construir a tecnologia do futuro. É nisso que também estamos interessados.
Sobre a NEA
A Agência de Energia Nuclear da OCDE (NEA) é uma agência intergovernamental que facilita a cooperação entre países com infraestruturas avançadas de tecnologia nuclear para buscar a excelência em segurança nuclear, tecnologia, ciência, meio ambiente e direito.
A NEA opera no âmbito da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e está localizada nos arredores de Paris, França. A NEA é uma agência semi-autônoma com membros e financiamento separados da OCDE.
O objetivo da Agência é ajudar seus países membros a manter e desenvolver, por meio da cooperação internacional, as bases científicas, tecnológicas e jurídicas necessárias para o uso seguro, ambientalmente correto e econômico da energia nuclear para fins pacíficos.
Ulysses Varela - Jornalista Científico - Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN