Fonte: CNEN

Quatro ações que podem salvar vidas em uma situação de parada cardiorrespiratória (PCR), procedimentos adotados em casos de acidente vascular cerebral (AVC) e acidente vascular encefálico (AVE), o passo a passo para a imobilização de vítimas de traumas e restrição do movimento da coluna (RMC) no atendimento pré-hospitalar (APH) foram alguns dos temas abordados no 18° Workshop de Urgência e Emergência, promovido pela equipe de socorristas do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN) para alunos da Escola Clara Luz de Enfermagem de Osasco, no último sábado, 5, das 9h às 16h30.

O Workshop, realizado no Centro de Ensino do IPEN/CNEN, foi a última etapa de um curso semestral de 100 horas, no âmbito da parceria de 11 anos entre IPEN/CNEN e a Escola Clara Luz. "O objetivo desse curso é a gente detectar e socorrer, observando os protocolos de saúde, qualquer intercorrência médica, pré-hospitalar. Como o nome diz, é um pré-atendimento, não um tratamento, porque tratamento é no intra-hospitalar. O que nós fazemos é orientar os alunos quanto a procedimentos de urgência e emergência que podem salvar vidas”, explicou Marcos Silveira, que coordena a esquipe do IPEN/CNEN.

Segundo ele, os socorristas são capacitados pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Cruz Vermelha, com treinamentos e aperfeiçoamentos constantes no atendimento a qualquer tipo de intercorrência. Desta edição – acrescenta Marcos – participaram 67 alunos, e a última aula é sempre no IPEN/CNEN, o que acaba servindo como reciclagem para a equipe. Um dos pontos altos do Workshop foi simulação de acidente de trânsito, em que foi demonstrado como imobilizar a vítima (APH) até que ela possa ser removida com segurança para atendimento hospitalar.

No caso de PCR, por exemplo, quatro ações podem salvar vidas: a primeira é identificar a situação, verificando os sinais vitais, estimulando a vítima com toques firmes e comandos de voz para obter alguma resposta. O segundo passo é o acionamento do serviço de atendimento móvel de emergência. Não havendo reações (constatando-se que a respiração e os batimentos estão ausentes ou fracos), deve-se começar as manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP) de alta qualidade. Por último, o uso do desfibrilador externo automático (DEA), assim que disponível.

Outro tópico que chamou a atenção dos alunos foi a demonstração de socorro em caso de engasgo, muito comum principalmente em crianças, mas não raro em adultos. Houve simulação da manobra de Heimlich em "bebê” e "cadeirante”, utilizando bonecos, e também de uma ocorrência em um adulto de grande porte, esta com a participação dos socorristas Marcio Roberto e Gilson Daltro. Na ocasião, foi mencionada a Lei 13.722/2018, ou Lei Lucas, criada em homenagem ao menino Lucas Begalli Zamora, quefaleceu aos 10 anos após um acidente escolar em se engasgou durante o intervalo escola e morreu.

Essa lei exige que professores e funcionários de instituições públicas e privadas de educação básica, assim como de estabelecimentos de recreação infantil, recebam capacitação em noções básicas de primeiros socorros. O objetivo é garantir que todos estejam preparados para agir em situações de emergência até a chegada do atendimento médico especializado. O treinamento pode ser conduzido por profissionais da área da saúde, como aqueles que atuam em Pronto-Socorro ou no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

Os alunos também conheceram os principais materiais utilizados por socorristas em ambulância, a importância da correta e pronta identificação dos sintomas e acionamento dos serviços de emergência para casos de AVC e AVE. Dentre os principais sinais estão fraqueza de um lado do corpo, alteração ou perda de visão, dificuldade para falar, desvio de rima labial (sorriso torto), desequilíbrio e tontura, dores de cabeça fortes e persistentes e dificuldade para engolir.

"O curso é muito rico e forma o aluno para atuar no SAMU, em UTI hospitalar e no resgate as vítimas de acidentes, AVC, AVE, engasgo e tudo o que você está sendo apresentado aqui. E, para os alunos, é muito importante esta etapa no IPEN, o curso é muito rico em aprendizado, com 100 horas, divididas em 16 sábados. Esta última etapa é importante e fecha o ciclo com muito conhecimento sobre o atendimento pré-hospitalar”, afirmou Jerusa Paiva de Oliveira, professora da Escola Clara Luz e enfermeira com mais de 20 anos de experiência, coordenadora do curso junto com o também professor e profissional da área, Jean Frontino.

Todos os temas abordados no Workshop, de acordo com Frontino, foram planejados conjuntamente, entre Escola Clara Luz e IPEN/CNEN, desde o momento em que ele conheceu Marcos Silveira. "Ele é o idealizador do projeto. Juntos, elaboramos um curso fácil, prático, rápido, com baixas variáveis, de maneira que possamos ter um serviço de primeiros-socorros não apenas para os profissionais, mas para todos aqueles que possamos alcançar. Um minuto faz toda a diferença em uma situação de emergência, e quanto mais profissionais treinados, mais vidas podemos salvar”, ressaltou.


Foto: Divulgação IPEN/CNEN

"Apaixonada”

Para a aluna Andreia Pereira da Silva, o Workshop no IPEN/CNEN, assim como todo o curso, certamente farão dela uma profissional melhor. "É uma área que desde sempre me encantava, e, quando eu decidi fazer o curso, me apaixonei. Tudo o que eu aprendi dentro da sala de aula, com os professores, os ensinamentos e o cuidado que eles têm de mostrar para nós a importância dos primeiros-socorros, na teoria como na prática, não consigo descrever em palavras. É um mundo totalmente diferente do que você imagina”.

Nathan Henrique de Souza Pinheiro comentou que o Workshop, particularmente, trouxe muitas lembranças boas, pois já presenciou e participou de resgates do SAMU, experiência pela qual "se apaixonou”. Ele destacou o apoio recebido de Jean e Jerusa desde o início do curso. "Eles me ajudaram bastante, me ensinaram muito, e pude desenvolver bem o meu processo do curso. Achei tudo incrível, principalmente esse workshop, que está maravilhoso”.

Palestras

Com início às 9h, o Workshop contou com a palestra de Gabryelle Moreira, presidenta da Women in Nuclear, capítulo Brasil (WiN Brasil), organização ligada à WiN Global, sem fins lucrativos de mulheres que trabalham profissionalmente em vários campos da energia nuclear e aplicações de radiações ionizantes, como medicina e saúde, autoridades reguladoras, na indústria ou como pesquisadoras independentes. Ela abordou a participação das mulheres na ciência, evidenciando a discrepância de oportunidades e a importância de se promover a equidade de gênero em todos os campos do conhecimento.

Na sequência, o físico Fábio Suzuki, supervisor de Radioproteção do IPEN/CNEN, fez uma apresentação sobre atendimento a emergências radiológicas e nucleares, transporte de material radioativo, proteção física em instalações nucleares e instrumentação em radioproteção. Deu diversos exemplos de como a radiação está presente no cotidiano, utilizando um detector e um pacote de sal light, rico em cloreto de potássio (KCI), indicado no tratamento e/ou prevenção da hipocalemia em pacientes que não toleram potássio líquido ou efervescente – o potássio é radioativo, emite radiação Beta e Gama.

"A parceria entre o IPEN e a Escola Clara Luz resultou nesse trabalho conjunto de formação de pessoal para atendimento pré-hospitalar. A cada seis meses, eles montam uma turma, e, como disse, aqui sempre acontece a última aula. A maioria dos alunos é da área de enfermagem, mas podemos oferecer também para outros grupos de profissionais, pessoas leigas, porque nosso pessoal é qualificado. Nosso espírito é de colaborar, dentro das nossas especialidades e da competência dos nossos socorristas”, concluiu Marcos Silveira, coordenado pelo IPEN/CNEN.


Foto: Divulgação IPEN/CNEN