Julian Marco Barbosa Shorto é formado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e possui a especialização em física nuclear experimental e reações nucleares de baixa energia.

Ele é gerente de pesquisa, desenvolvimento e inovação no Centro de Engenharia Nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).

Seus interesses de pesquisa incluem projetos em engenharia nuclear e física da saúde. Julian também é vice-presidente do programa de pós-graduação em Engenharia Nuclear do IPEN.

Você atualmente é gerente de pesquisa, desenvolvimento e inovação no Centro de Energia Nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Poderia nos contar o que o Instituto faz, que tipo de pesquisa é realizada?

O Instituto de Pesquisa Energéticas Nucleares faz parte do Instituto de Pesquisa da Comissão Nacional de Energia Nuclear que está ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Então, originalmente ele surgiu ao redor de um reator nuclear, um reator de pesquisa.

Mas foram surgindo outros centros ao redor desse reator para dar suporte para as pesquisas que eram realizadas lá. Então, hoje em dia, além da área nuclear, ele tem forte presença em pesquisa em saúde, biotecnologia, materiais, célula de hidrogênio, irradiação de alimentos químicos em um ambiente, lasers, aplicações com lasers. É um centro multisciplinar, que faz pesquisa em diferentes áreas do conhecimento.

E que projetos internacionais, em particular com os países do BRICS, estão em andamento no Instituto?

A gente tem parcerias com vários países, mas em relação ao BRICS, o nosso principal parceiro é a Rússia. Nós temos uma parceria já há bastante tempo com o Instituto MIFI [Instituto de Engenharia Física de Moscou]. Nós mandamos para a Rússia quatro ou seis alunos para fazer um mestrado. E agora a gente está para assinar um acordo de dupla titulação. Então, os nossos alunos vão ter um diploma da Rússia e um diploma da Universidade de São Paulo.

E como você avalia as perspectivas de desenvolvimento do setor da energia nuclear no mundo?

Eu acho que as perspectivas são de melhoria, de um crescimento da energia nuclear, principalmente por causa da necessidade de descarbonização. A energia nuclear é uma energia limpa, tem uma pegada de carbono baixa e ela fornece uma energia de base importante, porque as renováveis dependem do clima, da intermitência. Então, a energia nuclear fornece uma base importante.

Quais projetos no setor da energia nuclear estão planejados para serem implementados com os países membros do BRICS?

Não temos nenhum grande projeto que eu saiba. A Rússia [a Rosatom] está construindo reatores na Índia. Eles estão em negociação com a África do Sul, e a China também tem tentado. Então, entre os países as colaborações são mais russas e chinesas com os outros membros do BRICS.

E quais são as novas tecnologias no setor da energia nuclear que o Brasil pode oferecer aos outros Estados-membros do BRICS?

O Brasil tem uma tradição na área nuclear e a gente é um dos poucos países do mundo que domina o ciclo completo do enriquecimento do Urânio. Poucos países do mundo têm isso, então acho que isso é um aspecto que o Brasil pode colaborar bastante com os outros países do BRICS. A Rússia também domina o ciclo.

Como a energia nuclear pode ajudar a lidar com as mudanças climáticas e reduzir as emissões de gases de efeito estufa?

Acho que a energia nuclear é fundamental. A gente vai precisar do apoio da energia nuclear, porque é uma energia limpa, com baixa emissão de carbono.

Então acho que a energia nuclear vai ser uma peça fundamental nessa busca em que estamos tentando reduzir as emissões de efeito estufo. É claro que a energia nuclear tem alguns problemas a superar […]. Mas eu acho que não dá para abrir mão da energia nuclear no futuro se a gente quiser alcançar a meta de zero emissões até 2050.

Que iniciativas estão sendo implementadas atualmente nos países do BRICS no setor de energia nuclear e quais delas, em sua opinião, são os mais promissoras?

O mais promissor são os pequenos reatores modulares. Tanto a China quanto a Rússia, o Brasil tem pesquisado também nessa área.

Eu acho que isso aí vai trazer uma nova vida para o setor. Porque esses reatores vão poder gerar energia em áreas distantes, remotas, de difícil acesso.

Também, uma área que a gente está pesquisando é usar esses reatores para a exploração de petróleo no pré-sal.

A China e a Rússia têm investido bastante na fusão nuclear. Eu acho que é uma coisa mais de longo prazo, mas também um setor que no futuro vai ser importante na geração de energia.

E como você avalia a experiência russa no desenvolvimento da medicina nuclear? Que perspectivas para a cooperação você enxerga nessa área no âmbito do BRICS?

Existem excelentes perspectivas. A Rússia tem uma longa tradição na medicina nuclear desde a década de 40. Antes de tudo, tem uma fábrica de produção em radioisótopos. E os principais fornecedores do Brasil são russos. Então, as perspectivas de cooperação da Rússia são excelentes.

Neste mês, Moscou e São Petersburgo sediarão um estágio para especialistas do setor energético da América Latina e do Caribe. O projeto tem como objetivo desenvolver o diálogo internacional no setor de energia. E a TV BRICS é a organizadora e parceira de mídia internacional do estágio. O que você acha desse projeto? Você acredita ser possível organizar um estágio semelhante no Brasil para especialistas dos países do BRICS?

Eu acho esse projeto excelente. Não só para fortalecer a cooperação dos países da América Latina com a Rússia, mas para estabelecer um diálogo entre os próprios países da América Latina. É uma oportunidade de a gente conhecer também os nossos vizinhos. E eu acho que é perfeitamente possível realizar um encontro semelhante lá no Brasil. É bem possível.