Entre os dias 16 e 22 de agosto a mestra vinculada ao Programa de Pós-graduação em Tecnologia Nuclear – Aplicações – IPEN (USPe diplomata civil humanitária, Heloisa de Oliveira Reis, visitou o Centro de Estudios Nucleares La Reina (CEN La Reinaem Santiago, no Chile.
Acompanhada pelo jornalista Rodrigo Mazzo Iturriaga e recebida pelo Dr. Jorge Gamarra e sua equipe, que representam a Comissão Chilena de Energia Nuclear (CCHEN), Heloisa teve a oportunidade de conhecer as atividades do centro, assim como a equipe responsável pela gestão do reator nuclear daquele país.
A visita possibilitou o compartilhamento de informações e a discussão sobre práticas, avanços tecnológicos e melhorias na segurança e eficiência das operações que envolvem, principalmente, os rejeitos nucleares.
"Durante a reunião, discutimos sobre a importância de preparar novos profissionais para a gestão contínua das atividades nucleares no Chile, bem como as especificidades dos trabalhos realizados na unidade. A interação entre cientistas e especialistas de diferentes países fortaleceu laços diplomáticos e poderá facilitar futuras colaborações em projetos nucleares e de segurança global”, destacou Heloisa.
Ela explica ainda que a exposição e o contato com diferentes abordagens científicas e técnicas estimulam novas ideias e hipóteses de pesquisas, oportunizando a exploração de caminhos inovadores que poderão resultar em contribuições originais para o campo da ciência nuclear brasileira.
Um dos momentos mais interessantes da visita ao CEN La Reina foi o acesso ao Reator Nuclear de Pesquisa RECH-1 (Reator Experimental Chileno Número 1), que foi o primeiro reator nuclear no Chile, inaugurado em 1974, sendo utilizado até hoje, principalmente, para pesquisas científicas, produção de radioisótopos para medicina nuclear e para o treinamento de pessoal técnico e científico, da mesma forma como acontece com o Reator de Pesquisas IEA-R1, em funcionamento no IPEN, instalado em São Paulo.
Assim como ocorre no Brasil, as autoridades chilenas têm incentivado a formação do capital humano para atuação na ambiência laboral nuclear do país.
Vale ressaltar que a instalação radiativa no Chile também se destaca por sua importância histórica e estratégica no cenário científico e tecnológico da nação, sendo um marco do compromisso do país com o uso pacífico da energia nuclear.
Atuação no Programa de Pós-graduação em Tecnologia Nuclear - Aplicações
Heloisa, que está consolidando novas etapas para o processo de doutoramento, destaca que, durante o mestrado, dissertou sobre a "Avaliação de segurança na gestão e pré-deposição de fontes radioativas seladas em desuso (FRSD)”, um tema relevante, segundo ela, por tratar de materiais que precisam ser mantidos sob vigilância institucional em todo o planeta: rejeitos radioativos.
A agora mestra revela que durante as últimas décadas foram desenvolvidas diversas técnicas de utilização de fontes radioativas seladas (FRSem aplicações industriais, na medicina, na pesquisa, na agricultura e na gestão do meio ambiente. O problema é que, ao término da vida útil, as FRS se tornam inapropriadas para a finalidade a que estiveram relacionadas, mesmo apresentando níveis elevados de radiação, e precisam ser administradas com cautela, visando diminuir quaisquer riscos de exposição acidental e manuseio indevido. Nessa fase, passam a ser denominadas "fontes radioativas seladas em desuso” (FRSD).
A dissertação de mestrado defendida recentemente aborda justamente a necessidade de recolhimento das FRSD aos institutos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), e explana as especificidades do gerenciamento dessas fontes como rejeito radioativo. Em síntese, a avaliação pré-deposição corresponde à análise de riscos do conjunto de operações unitárias, que são atividades administrativas e técnicas envolvidas na segregação, tratamento, acondicionamento, transporte e deposição das FRSD.
"Quando a ciência e a diplomacia trabalham em harmonia, o potencial para resolver problemas globais, como questões ambientais, segurança nuclear e saúde pública, é imensamente ampliado. A ciência, com sua base em evidências e pesquisa, pode fornecer soluções concretas e inovadoras, enquanto a diplomacia atua para garantir que essas soluções sejam compartilhadas e implementadas de forma justa e eficaz. Logo, tal intersecção é imprescindível”, finaliza Heloisa, que defendeu sua dissertação sob a orientação do Dr. Júlio Marumo e apoio do Dr. Roberto Vicente, do Centro de Rejeitos Radioativos (CERER – IPEN).
Texto: Colaboração Ulysses Varela,Jornalista Científico DRT/AM-192
Doutor em Comunicação - UFSM