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Reator Argonauta: 60 anos de contribuições para a ciência nuclear

Publicada em: 25/04/2025 11:45 - Notícias

 

Conheça a história da construção do reator instalado no Instituto de Engenharia Nuclear, que completa 60 anos da sua primeira criticalidade.

 

 

Reator Argonauta do IEN/CNEN em 1965

Reator Argonauta do IEN/CNEN em 1965. Foto: Acervo/IEN

Odia 20 de fevereiro de 1965 é considerado um marco para a história da ciência e tecnologia nuclear do Brasil. Foi nessa data em que ocorreu a primeira criticalidade do Reator Argonauta, que estava sendo construído nas instalações do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN) desde 1962, ano de fundação dessa unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

O termo “criticalidade” representa o estado normal de um reator nuclear. Ela ocorre quando cada átomo de urânio se divide, causando a liberação de nêutrons suficientes para dividir outro átomo, fazendo com que o reator alcance uma reação em cadeia autossustentável e tendo uma reatividade igual a zero. No mundo, o primeiro reator a ter a sua criticalidade registrada foi o Chicago Pile-1 (CP-1), nos Estados Unidos, em 2 de dezembro de 1942.

Esse fenômeno pode ser entendido como o despertar do Reator Argonauta, que, a partir de então, passou a efetivamente trabalhar em favor do desenvolvimento de pesquisas do setor nuclear.

“O Argonauta é um reator-escola, e desde sua primeira criticalidade tem atuado como uma ferramenta de ensino em diversos cursos, sendo essencial na formação de recursos humanos na área nuclear” afirma o chefe do Setor do Reator Argonauta do IEN/CNEN (SEREA/IEN), André Luís Nunes Barbosa.

Contexto Histórico do Reator Argonauta

Construção do prédio do Reator Argonauta
Prédio do Reator Argonauta sendo construído na Colina da Sapucaia, onde hoje é a sede do IEN/CNEN. Foto: Acervo/IEN

Até alcançar à primeira criticalidade do Argonauta, muito trabalho foi empreendido por um grupo de engenheiros liderados pelo Dr. Luís Osório de Brito Aghina, que foi o mentor desse projeto, e idealizado nos laboratórios do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), ainda no início da década de 1960, conforme explicou o Dr. Francisco José de Oliveira, chefe da Divisão de Engenharia Nuclear (DINUC/IEN). Esse foi o primeiro reator nuclear montado por empresas nacionais, onde se utilizou cerca de 93% de matéria-prima brasileira. Os únicos elementos importados foram o grafite, o urânio e alguns componentes eletrônicos.

Os dois outros reatores que já estavam instalados no país na época - O IEA-R1 (localizado nas instalações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - Ipene o TRIGA Mark 1 – foram projetados nos Estados Unidos e trazidos para o Brasil como parte do programa “Átomos Pela Paz”, estabelecido pelo então presidente americano John Fitzgerald Kennedy no contexto da Guerra Fria.

Esse mesmo programa, que visava promover o uso pacífico da energia nuclear em países aliados dos norte-americanos após a Segunda Guerra Mundial, possibilitou que o Brasil recebesse o projeto de construção de um reator de pesquisa, derivado da Universidade de Argonne nos Estados Unidos. Por essa razão, o nome do Reator Argonauta foi inspirado nesse que é um dos mais antigos laboratórios de pesquisa científica do Departamento de Energia americano.

Em função dessa característica educacional, o reator precisava ser instalado em um centro universitário, e desta forma, as obras de construção do equipamento ocorreram na sede do IEN/CNEN, que fica localizado no campus da UFRJ na Ilha do Fundão, na capital fluminense.

Engenheiros que trabalharam na construção do Reator Argonauta
Engenheiros que trabalharam na construção do Reator Argonauta. Foto: Acervo/IEN

O trabalho de construção desse reator durou três anos, contendo etapas como montagem, carregamento dos elementos combustíveis, instalação e testes da instrumentação de controle e segurança do reator. Os elementos combustíveis foram confeccionados em uma pequena fábrica recém-construída no IPEN/CNEN, em São Paulo. Os engenheiros utilizaram aproximadamente dois quilos de um total de seis quilos do isótopo 235 de urânio enriquecido a 20% e sob a forma do óxido U3O8. Esses elementos também foram adquiridos pelo IEN/CNEN por meio do programa Átomos pela Paz.

A inauguração oficial do Reator Argonauta ocorreu em 7 de maio de 1965, cerca de três meses após a primeira criticalidade, com a presença do então Presidente da República, o Marechal Castelo Branco, e tendo ampla divulgação nas manchetes dos jornais da época, conforme é possível ver abaixo:

Manchete sobre inauguração do Reator
Manchete 1
Matéria de Jornal sobre a inauguração do Reator
Manchete 2

Passado, Presente e Futuro

Dos anos 1960, em que foi inaugurado e começou a operar, até à contemporaneidade, o Reator Argonauta tem sido um importante instrumento para gerar avanços no setor nuclear. O pesquisador Francisco Oliveira lembra que o Argonauta atua na produção de radioisótopos para a indústria, pesquisas, medicina e em ensaios não destrutivos, com destaque para a neutrongrafia:

“Essa é uma técnica muito disseminada no meio científico. Trata-se de uma espécie de radiografia com nêutrons, com amplo aspecto de aplicação, tanto na área da saúde quanto na indústria, e que utiliza a peculiaridade das interações dos nêutrons com a matéria”, explica. 

Reator Argonauta 2024
Reator Argonauta em 2024. Foto: Gledson Júnior

Já o chefe do SEREA/IEN reforça o papel do reator na formação e capacitação de profissionais da área nuclear, por meio do Programa de Pós-Graduação do IEN/CNEN (PPGIEN), e sediando cursos e treinamentos em parceria com universidades e outras instituições científicas. Vale lembrar que em janeiro deste ano ocorreu, pela primeira vez no IEN/CNEN, o Curso Introdutório para Operadores de Reatores de Pesquisa (CIORP), da Eletronuclear, considerado referencial para quem irá operar nas usinas localizadas em Angra dos Reis.

O Reator Argonauta também trabalha na obtenção de radiotraçadores, aplicados na solução de problemas industriais e em estudos de efluentes líquidos e do meio ambiente. Outras pesquisas e ações desenvolvidas a partir do reator proporcionaram: uma melhor avaliação da qualidade do ar, da água e dos solos; medição de material tóxico em fertilizantes; diagnóstico para o tratamento de doenças; preservação do patrimônio arqueológico etc. E o IEN/CNEN estuda promover mais avanços para a tecnologia nuclear por meio do Argonauta

“Para o futuro, nós queremos ampliar a carga desse reator para aumentar a sua potência. Pretendemos continuar com os trabalhos na parte de cursos, atraindo outras instituições para que trabalhem conosco, e ao mudar a potência, atender uma gama maior de pesquisas nessa instalação”, afirma André Luís Barbosa.

ACESSE A EXPOSIÇÃO DO REATOR ARGONAUTA NA CIDADE VIRTUAL DA CIÊNCIA

Escrita por: José Lucas Brito

Ciência e Tecnologia
 
 

 

 

 

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