Cerimônia Oficial marca o início formal do projeto do primeiro microrreator nuclear brasileiro
Unidade Crítica do equipamento será construída nas instalações do Reator Argonauta do Instituto de Engenharia Nuclear, no Rio de Janeiro, com a participação de 13 instituições parceiras.
O setor nuclear brasileiro registra um importante avanço para atender às atuais demandas por energia limpa e progresso tecnológico. O Instituto de Engenharia Nuclear, unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), no Rio de Janeiro, realizou no último dia 9 de dezembro um cerimonial para marcar o início formal do processo de licenciamento do local de construção da Unidade Crítica (UCRI) do primeiro microrreator nuclear do país.
O IEN/CNEN havia enviado o ofício IEN no 98, no dia 2 de dezembro de 2025, para a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), autarquia federal responsável pela regulação e monitoramento das atividades nucleares em território nacional, para obter a permissão de construir a unidade crítica, bem como para que o trabalho de instrumentação e testes do microrreator, ocorra nas instalações do Reator Argonauta do Instituto.
Esse empreendimento inédito no Brasil está sendo desenvolvido em um pool que reúne um total de 13 parceiros institucionais, divididos nos seguintes grupos:
- Empresas Privadas: Diamante Energia, Terminus P&D em Energia e Indústrias Nucleares do Brasil (INB).
- Órgãos de apoio e fomento: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA);
- Instituições Científicas e universidades: Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN), Universidade Federal do Ceará (UFC), Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Marinha do Brasil, Universidade Federal do ABC (UFABC) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG);
A solenidade contou com as presenças da maior parte das instituições envolvidas no projeto, com destaque para o Secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do MCTI, Dr. Inácio Arruda, que enfatizou que o projeto do microrreator nuclear é uma conquista da Ciência Brasileira, área que, segundo ele, detém o apoio e o engajamento da atual gestão do Governo Federal:
“Quando o Presidente da República, ao conduzir o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, reafirma a sua confiança na Ciência, que pode beneficiar gigantescamente o nosso país em todas as áreas, e muito especialmente na área de energia” declarou Arruda.
O secretário citou ainda a decisão política que levou à aprovação do financiamento de R$50 milhões para o projeto do microrreator nuclear, sendo R$30 milhões por parte da Finep, por meio de recursos do Fundo Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), e R$20 milhões concedidos pela Diamante Energia. A Finep, por sinal, foi representada no evento pelo diretor de inovação, Dr. Elias Ramos, e pelo gerente de transição energética, Dr. Paulo Resende. Já pela Diamante Energia, estiveram presentes o CEO da empresa, Pedro Litsek, e o consultor técnico Leonardo Paredes Pires.
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Tecnologia que promoverá transformações na ciência nuclear brasileira
A mesa do cerimonial foi composta pelo Presidente da CNEN, Dr. Francisco Rondinelli Júnior, pela chefe de Avaliação de Segurança e Coordenadora de Emergência da ANSN, Dra. Nélbia da Silva Lapa, pelo diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, Dr. Wilson Calvo, pelo Diretor de Gestão Institucional dessa mesma autarquia, Dr. Pedro Maffia, e pelo diretor do IEN/CNEN, Dr. Cristóvão Araripe Marinho.
Em suas saudações, os membros da mesa destacaram a tradição do IEN/CNEN em ser pioneiro em projetos inovadores na história da ciência e tecnologia nuclear do Brasil, como na década de 1960, quando foi fundado para abrigar o Reator Argonauta, primeiro reator de pesquisa 100% construído por técnicos e engenheiros brasileiros e montado com matérias-primas nacionais.
Desta vez, o Instituto sediará a construção da Unidade Crítica desse microrreator, que irá operar em potência considerada muito baixa, na escala de 100W (Watt), sendo suficiente para sustentar a reação nuclear em cadeia, de forma controlada. Na Unidade Crítica, os técnicos irão aferir parâmetros neutrônicos importantes e validar modelos teóricos. Todo esse processo de construção e testagem neutrônica do microrreator nuclear irá proporcionar, entre outras expertises, a parceria com universidades e instituições de pesquisa para fomentar a formação de recursos humanos na área.
Cristóvão Araripe, diretor do IEN/CNEN, lembra que essa iniciativa contribuirá para vencer os grandes desafios do século XXI, como a descarbonização, a transição energética e o desenvolvimento sustentável, tendo como uma das suas principais vantagens o fato de não emitir gases poluentes, que ampliam o efeito estufa na atmosfera terrestre.
A Dra. Nélbia Lapa, por sua vez, falou sobre o compromisso da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear em atualizar as normas de proteção radiológica no país para contemplar projetos, como esse do microrreator nuclear, que traz em seu escopo características inovadoras, como modularidade e flexibilidade operacional, surgindo a necessidade de haver uma regulamentação que contemple essas novas instalações.
Na sequência, ocorreu a realização de uma mesa-redonda que se aprofundou em detalhar as tecnologias que compõem os microrreatores nucleares e como as universidades e institutos de C&T se debruçam sobre o seu desenvolvimento.
A mesa-redonda teve como mediador o professor titular do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Universidade Federal do Ceará, Dr. Ênio Pontes de Deus, que coordenou as quatros apresentações feitas pelos seguintes pesquisadores:
- Dr. Adolfo de Aguiar Braid, Diretor Executivo da Terminus, que conduziu a apresentação sobre o “Desenvolvimento e teste de tecnologias críticas para microrreatores nucleares”.
- Dr. Francisco José de Oliveira Ferreira, chefe da Divisão de Engenharia Nuclear do IEN/CNEN, responsável pela apresentação “Projeto e construção de uma unidade crítica para um microrreator nuclear”.
- Dr. Tiago Augusto Moreira, pesquisador e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que apresentou no evento sobre o “Desenvolvimento de tubos de calor para o microrreator nuclear brasileiro”.
- Dr. Hamilton Ferreira Gomes de Abreu, pesquisador e professor da Universidade Federal do Ceará, que discorreu sobre a “Fabricação aditiva de tubos de calor para o microrreator nuclear”.
Diversidade de aplicações do Microrreator Nuclear
A cerimônia que marca o início do processo de licenciamento do microrreator nuclear brasileiro foi concluída com as autoridades reunidas no salão do Reator Argonauta para o descerramento da placa da pedra fundamental desse empreendimento. Dado esse passo, o IEN/CNEN e os demais parceiros envolvidos cumprirão uma sequência de etapas para que, até 2033, o primeiro microrreator nuclear esteja pronto para entrar em operação.
O objetivo é que, no futuro, os microrreatores nucleares estejam a disposição para gerarem eletricidade em cidades com menos de 20 mil habitantes. Segundo dados do MCTI, 68% dos municípios brasileiros teriam condições para receberem energia por meio de um microrreator nuclear, impactando a vida de cerca de 30 milhões de cidadãos. Por serem compactos, os microrreatores podem ser transportados para regiões de difícil acesso, atendendo a comunidades ribeirinhas e aquelas situadas em áreas de mata.
Além de prover energia elétrica para pequenas cidades, os microrreatores nucleares também podem atender à data centers, plataformas de petróleo offshore (afastadas da costa) e bases militares, além de serem utilizados em diversos segmentos industriais, como metalurgia, alimentícia, química, têxtil, de produtos minerais não metálicos, entre outros.
“Nós temos no Brasil a capacidade científica e tecnológica para projetar microrreatores, temos capacidade industrial para fabricá-los com excelência e temos total competência para operá-los. Para o Brasil, é um benefício muito grande de ter tudo isso instalado dentro do país, além de dominar todo o ciclo do combustível, de toda a experiência que temos em operar usinas, enriquecer urânio, tudo isso se soma, no final, em benefício da população brasileira”, declarou o diretor executivo da Terminus, Dr. Adolfo Braid.
ASSISTAM AO VÍDEO DA DIAMANTE ENERGIA SOBRE O PROJETO DO MICRORREATOR NUCLEAR BRASILEIRO
Escrito por: José Lucas Brito (Setor de Comunicação Social do IEN/CNEN)

