Entre os destaques, discutiu-se a importância de um acesso equitativo pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a necessidade de tornar a medicina nuclear prioridade nas políticas públicas.
O encerramento da Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E) foi marcado por uma mobilização de entidades e especialistas em defesa da consolidação de uma política de Estado para a medicina nuclear no Brasil. Os debates destacaram o papel estratégico da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e de uma de suas unidades, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN), responsável pela gestão da única radiofarmácia pública do País e pela liderança em pesquisa, desenvolvimento e produção de radiofármacos no território nacional. Promovido pela Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), o evento aconteceu entre 20 e 22 de maio, na cidade do Rio de Janeiro.
No painel “O papel da medicina nuclear na política nacional e controle do câncer no Brasil” participaram Isolda Costa, diretora do IPEN/CNEN, Elba Etchebehere, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e Imagem Molecular (SBMN), Reimont Otoni, deputado federal (PT-RJ), e Sibila Grallert, diretora da empresa russa Center of Molecular Research (CMR). Os palestrantes discutiram os avanços tecnológicos da área, o custo-efetividade do uso de radiofármacos, a importância de um acesso equitativo pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a necessidade de tornar a medicina nuclear prioridade nas políticas públicas.
Elba Etchebehere destacou o profissionalismo do IPEN/CNEN e sua capacidade de resposta às demandas da classe médica, relatando casos concretos em que pacientes foram atendidos graças à atuação do instituto. Isolda Costa, por sua vez, enfatizou a importância da radiofarmácia pública e mencionou o desenvolvimento nacional do gerador de tecnécio como um exemplo de resposta direta às necessidades da área.
No segundo painel do dia, “Planos de expansão do tratamento e do diagnóstico do câncer no Brasil”, os participantes discutiram a formação de especialistas, a concentração de serviços na região Sudeste e a escassez de equipamentos como o PET-CT (tecnologia de imagem que permite identificar precocemente alterações metabólicas associadas a tumores) na rede pública. Também foi debatido o subfinanciamento crônico da área. No ano 2000, os investimentos em medicina nuclear representavam cerca de 1% do orçamento do SUS. Atualmente, esse percentual caiu para apenas 0,6%.
A pesquisadora da CNEN, Lorena Pozzo, apresentou o panorama regulatório da medicina nuclear no Brasil e defendeu o avanço do Projeto de Lei 2167/2025, que institui a Política Nacional para o Desenvolvimento da Medicina Nuclear e deverá ser levado a plenário em breve. Já Emerson Bernardes, do IPEN/CNEN, chamou atenção para a necessidade de critérios mais compatíveis com a realidade brasileira na incorporação de radiofármacos ao SUS. Ele reforçou que a solução para o acesso não depende exclusivamente do início da operação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), voltado à produção nacional de radioisótopos, e que é preciso avançar em múltiplas frentes para garantir equidade no setor.
Respostas à comunidade médica
Durante a abertura para perguntas, o médico Warwyk Mendonça questionou a diretora do IPEN/CNEN, Isolda Costa, sobre a interrupção na entrega de dois lotes do radiofármaco DOT-Ipen-177. Isolda esclareceu que os lotes 509 e 513 foram descartados preventivamente, após reprovação nos testes de controle de qualidade, motivada por falha em um insumo importado. O problema foi prontamente isolado e o IPEN/CNEN já está em busca de fornecedores internacionais mais confiáveis para garantir a regularidade do abastecimento.
O presidente da CNEN, Francisco Rondinelli Júnior, que acompanhava o painel, confirmou o esforço conjunto da CNEN e do IPEN para resolver a questão a curto, médio e longo prazos. Segundo ele, serão articuladas ações com o Congresso Nacional e o Ministério da Saúde para superar obstáculos regulatórios e logísticos. Rondinelli também mencionou a possibilidade de suprimento emergencial via o reator argentino e a perspectiva futura de produção nacional com o RMB.
O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, Wilson Calvo, destacou o histórico de cooperação entre as entidades médicas e a CNEN e defendeu a retomada de um diálogo estruturado com todos os atores da cadeia da medicina nuclear, para evitar riscos de colapso no fornecimento.
Calvo ressaltou a importância da modernização da infraestrutura, da capacitação de profissionais e da articulação com agências de fomento para financiar a inovação no setor. “Temos infraestrutura, capacidade técnica e potencial para muito mais. Precisamos de união e novos modelos para oferecer à população brasileira uma medicina nuclear à altura do nosso País”, concluiu.
Nas próximas semanas, a CNEN promoverá um amplo diálogo com toda a comunidade da medicina nuclear para construir, de forma conjunta e estratégica, soluções que fortaleçam e ampliem o potencial da área no país, segundo adiantou Rondinelli Júnior.
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Texto Emanuel Galdino - Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN
Categoria
Ciência e Tecnologia